quinta-feira, 26 de julho de 2018

Rascunho


Nunca me esqueci do dia em que ela me disse que tinha sonhado comigo em cima de um palco, um mar de pessoas a ouvir-me cantar.
Durante muito tempo, sonhei acordada com essa visão, espantada com o que ela vira quando fechara os olhos. Nunca pisaria um palco, muito menos para que se ouvisse a minha voz, por vontade do meu peito, tambor fraco e cobarde.
Anos mais tarde, em cima do palco a cantar, perguntei-me se nessa névoa ela teria visto a emoção de receber aplausos, de olhar para rostos nunca vistos mas que contorcem a face como nós, são pequenas pessoas na escuridão a ouvir-me. A mim!
Ela já me tinha visto. Ela sabia do meu futuro.
Ontem, ela sonhou que o meu ventre carregava o futuro mais bonito que existe.

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