quinta-feira, 3 de novembro de 2016

da morte

doze anos depois partiu
e seguiu para o nada
ou talvez para o lugar ao qual o padre chama morada
o alívio é desconfortável
depois de se fazer o luto dos vivos
e apenas sobrar mágoa.

doze anos depois ressuscitou
e apareceu para testemunhar a morte
(não a sua)
na esperança de encomendar a alma a alguém mais bondoso que os vivos,
enrola orações e cânticos entre a língua e os dentes que saem,
incoerentes, pelos lábios semicerrados, semi-chorados.

a terra que a cobre e a esconde não é feita de perdão
a memória decompõe-se, as feições desaparecem, o corpo muda
mas ninguém deixa flores aos vivos que morreram.

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