terça-feira, 11 de outubro de 2016

tudo (e falta tanto)

os meses fugiram entre o tempo em que te via e o dia de hoje
como se nunca tivesse olhado para o teu rosto
como se nunca tivesse descoberto a cor dos teus olhos
como se a tua expressão de surpresa fosse uma novidade.
eu nunca olhei para ti
relembro as caminhadas, a cabeça baixa
o peso insuportável da timidez
a procura de um ponto de fuga no chão, na parede
entre os meus dedos, na minha roupa.
eu nunca olhei para ti
e a mágoa tratou de curvar ainda mais o meu corpo
soube cerrar os meus punhos
fazer-me tremer como se agitasses o chão à minha volta,
e abrisses fendas onde antes só existiu amor.
só agora te reconheci
e sabes dos golpes que vou sofrendo
e fazes as mesmas perguntas de sempre
e conto-te mais do que devia, porque te reconheço.
desejei muita coisa nestes meses fugitivos
tanta que consinto a traição deste corpo
que me fere, que te olha
que obedece ao que pedi durante as insónias.

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