retiraste a peça central que me equilibrava. caí. deixei cair primeiro os braços que resistiam ao peso dos ombros encolhidos, de cada lágrima grossa que rompia o ar a alta velocidade e aterrava no chão onde o meu corpo foi parar.
caí no tapete cinzento felpudo do quarto temporário, desarrumado como o meu coração quando me falas.
fiquei de pernas cruzadas a sentir-me tola, criança que brinca numa roda mas perde o jogo e irrompe em soluços insuportáveis, histéricos, como se a própria vida dependesse daquele instante e saísse lesada pela perda.
talvez a criança tenha razão e talvez eu não tenha ainda esquecido que te perdi, tantas e tantas vezes, e lamentar espraiada no chão seja a minha histeria adulta.
olhei-me ao espelho e vi-te serena. vi a maquilhagem escorrer, descer pelos meus dedos, fugir da água. baptized in all my tears, já dizia o Michael Jackson. foi essa a igreja que me aceitou, a das lágrimas e da saudade e eu sou muito devota.
parte de mim crê em ti. nem imaginas o lugar imenso que te reservei em mim e eu não sei explicar porquê. perder-te é ter de me afogar no poço e ressuscitar sarada.
Sem comentários:
Enviar um comentário